Quando morávamos naquela casa no Cumbuco, minha mãe replicava que tinha medo do barulho das ondas, pois quando esbravejavam contra a areia faziam o barulho de um trovão melodioso e melancólico, parecia que esse trovão queria abrir as portas do seu coração fechado e rancoroso, de muitos homens e um Zeus que tanto lhe fizera mal, reclamava com o trovão do mar dizendo-lhe que ela não era nenhuma arvore propicia, nenhum eletrodoméstico acesso, mas sim um coração cheio de para-raios, um coração fechado, tão fechado que escorria pequenos rios de sangues nas mãos que o retinha, e que mãos eram essas? Eram as mãos dele, e quem era ele? Ela nunca me contou, mas a onda a fazia chorar, o sangue lhe escorria fazendo um rio longo e cheio de relevos, passava devagar dos olhos até o começo da bochecha, depois corria com pressa até o terminar do rosto.
Aquela onda que se repetia, e aquele homem que eu não conhecia, mas se tivesse chance de ver-lo algum dia o espancaria, o insultaria, mas com que motivos? Se ela nunca me contou, ele era simplesmente o homem de nome que nem quero mencionar, ela tinha mais medo dele do que do próprio diabo, ela tinha e tem.
As ondas seguem a bater na praia, lá onde ele se encontra, ela já não, agora mora quase no centro de Fortaleza, mas as ondas seguem lá, como que se tratasse do inferno, o inferno sempre está lá e ela sempre sentira medo, ele é um sacerdote com sua agua benta que nada cura, e seu pregar tenebroso, eu sou o menino rancoroso, que não sabe o porque, é uma missa que se passa todos os dias é uma missa em pleno carnaval.